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Síndrome da Fibromialgia é tema de debate na Câmara

Especialistas, representantes do poder público e pacientes discutiram o tema em reunião pública de iniciativa das vereadoras Maria Leticia e Professora Josete.


Maria Leticia, Secretaria de Saúde (Secretária Municipal de Saúde), Professora Josete, Jana Santos (Fibromigas) e Flávia Mesquita (Anfibro). Foto: Leonardo Costa


Nesta terça-feira (19), a Câmara Municipal realizou uma reunião pública que teve por tema a Fibromialgia, síndrome que acomete 2% da população mundial, em especial as mulheres. A iniciativa do evento foi das vereadoras Maria Leticia (PV) e Professora Josete (PT). De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a fibromialgia é um problema bastante comum, visto em pelo menos 5% dos pacientes que vão a um consultório de clínica médica e em 10% a 15% dos pacientes que vão a um consultório de reumatologia, sendo que, de cada 10 pacientes com fibromialgia, 7 a 9 são mulheres. Além das vereadoras proponentes da reunião, compuseram a mesa: Nathan Marostica Catolino, médico reumatologista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), membro da Sociedade Paranaense de Reumatologia e membro da Comissão de Mídias e Tecnologias da Sociedade Brasileira de Reumatologia; Elver Andrade Moronte, médico do trabalho com residência médica pelo Hospital de Clínicas de Minas Gerais e mestre em saúde coletiva pela UFPR, com atuação no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Curitiba e no Ministério Público do Trabalho no Paraná; Flávia Mesquita, designer, líder voluntária e delegada da região sul da Associação Nacional de Fibromialgia e doenças correlacionadas (Anfibro); Jana Santos, mestre em comunicação e linguagens, ex-empresária e criadora do projeto Fibromigas; Vitor Jorge Woytuski Brasil, especialista em Medicina Preventiva e mestre em Educação em Saúde, membro da Sociedade Brasileira de Estudo da Dor (Esbed) e da Associação Médica Brasileira de Endocanabinologia e gestor médico de Saúde Ocupacional do Complexo do Hospital de Clínicas da UFPR e do Centro de Terapia Canabinoide do Hospital Santa Casa de Curitiba; e Alanna Ajzental e Camargo, médica generalista formada pela UFPR, atuante há 13 anos na rede básica do SUS, integrante da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis e associada ao ABRACE Esperança. Saudações A vereadora Maria Leticia, que também é médica, esclareceu que a fibromialgia é uma enfermidade cujo diagnóstico não é simples e que depende da avaliação de uma série de fatores. “Trata-se de uma síndrome de difícil identificação, o que não significa que milhares de pessoas precisem lutar contra isso sozinhas e em silêncio”, frisou. Professora Josete, por sua vez, explicou que a fibromialgia provoca sofrimento extremo e uma dor incapacitante, o que requer uma atenção especial do sistema público de saúde. “Nesse sentido, é necessário pensar em políticas públicas que garantam o acesso das pessoas que sofrem com essa síndrome e também buscar a conscientização da sociedade quanto ao problema”, lembrou Josete . Ela mencionou ainda um projeto de lei de sua autoria que pretendia garantir o atendimento preferencial no SUS aos portadores de fibromialgia, mas que foi arquivado. Beatriz Batistella Nadas, secretária municipal de saúde, lembrou que, muito antes da Constituição de 1988 ser aprovada no Congresso Nacional, a atenção primária em saúde já era uma prioridade em Curitiba. “Já em 1979, os gestores da saúde do município decidiram pela instalação dos primeiros postos de saúde em locais onde o acesso à saúde era mais difícil. Foi uma estratégia, a meu ver, acertada e vamos insistir nesse procedimento, mas ela não prescinde das especialidades”, disse a secretária em referência a enfermidades como a fibromialgia. Para Beatriz Battistella, no caso da fibromialgia, é necessário trabalhar sob a perspectiva da multidisciplinaridade. No que diz respeito ao emprego de canabinoides para o tratamento da síndrome, ela disse que é preciso haver uma mudança legislativa, pois a Prefeitura só adquire remédios previstos na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename). Síndrome multifatorial Nathan Marostica Catolino, médico reumatologista, esclareceu que a fibromialgia é uma síndrome de hipersensibilidade dolorosa. “Trata-se de uma dor intensa e não localizável que provoca fadiga e alterações de sono e de humor”, disse ele. De acordo com o médico, do ponto de vista etiológico, a medicina ainda não sabe se a fibromialgia pode ser decorrente de doenças prévias, seja de ordem física ou emocional. “O que se sabe”, disse ele, “é que a origem da síndrome é multifatorial. O paciente quer ser compreendido como doente, mas vê sua queixa ser invalidada. Como não há exames específicos, a identificação da fibromialgia é dificultada”, afirmou Nathan. Por fim, ele esclareceu ainda que o diagnóstico é feito com base na avaliação clínica de fatores muitas vezes externos, como a qualidade de vida do paciente. Elver Andrade Moronte, médico do trabalho, explicou que a relação entre a fibromialgia e as questões pertinentes aos espaços de trabalho ainda é discutida. Para ele, a preservação da saúde não está ligada apenas a fatores de ordem biológica, mas também passa por questões sociais. “Isso envolve, naturalmente, as relações no ambientes de trabalho. Portanto, não há como afirmar que não exista uma relação”, disse ele. De acordo com o médico, o ambiente em que a pessoa trabalha pode melhorar ou deteriorar a situação do paciente. Ele explicou que não há causas definidas, mas traumas emocionais podem agravar o contexto.

Canabinoides Vitor Jorge Woytuski Brasil, gestor médico de Saúde Ocupacional do Complexo do Hospital de Clínicas da UFPR e do Centro de Terapia Canabinoide do Hospital Santa Casa de Curitiba, entende que o diagnóstico de fibromialgia deve estar necessariamente atrelado a questões como idade, sexo, gênero, atividade profissional e outros fatores, como, por exemplo, o acesso ao saneamento básico. “Procuro estimular os pacientes de fibromialgia a entender o conceito de ‘Dor Total’. Todos temos um sistema endocanabinoide único e individual que regula os demais sistemas do organismo. Para entendermos as causas da fibromialgia e pensarmos em formas de tratamento, a compreensão sobre o funcionamento desse sistema é imprescindível”, disse o médico. Alanna Ajzental e Camargo, médica generalista que atua há 13 anos no SUS, disse que, no caso da fibromialgia, é possível verificar duas situações distintas: a dos pacientes que ainda estão se familiarizando com a realidade de serem portadores da síndrome e que encontram obstáculos no atendimento pelo SUS (em virtude da dificuldade no diagnóstico); e a dos pacientes já diagnosticados, mas que são refratários ao uso de tratamentos alternativos, na medida em que já estão submetidos ao tratamento com medicações convencionais. “Considerando as especificidades desata síndrome, o mais indicado seria a implantação de um Centro de Referência especializado em Fibromialgia”, disse a médica. Depoimentos Flávia Mesquita, designer e delegada da região sul da Associação Nacional de Fibromialgia e doenças correlacionadas (Anfibro), entende que, para as pessoas que possuem doenças crônicas visíveis, a situação é menos grave do que para aquelas que possuem fibromialgia. “Essa pessoa é mais compreendida, pois seu problema de saúde pode ser verificado visualmente”, disse ela. Flávia disse que foi subdiagnosticada com fibromialgia por 4 anos e, durante esse período, percebeu as dificuldades enfrentadas pelas pessoas que buscam o tratamento da síndrome. “É uma síndrome cujos efeitos não se resumem apenas à dor. É necessário um tratamento multidisciplinar que deve ser posto em prática por meio de políticas públicas que devolvam a dignidade aos que sofrem com esta condição”, afirmou. Jana Santos, criadora do projeto Fibromigas, disse que, ao constatar em 2019 que tinha a fibromialgia, foi obrigada a encerrar as quatro empresas que dirigia. De acordo com ela, atividades cotidianas se tornaram dificultosas e, em certos momentos, sentia que mover seu corpo era como mover um saco de cimento. Ela revelou que buscou ajuda junto ao INSS, mas foi maltratada. Para ela, as pessoas que convivem com a síndrome precisam de amparo e acolhimento, principalmente nos ambientes de trabalho. Íris Souza Fagundes fez uso da palavra para relatar o caso de sua mãe, que é portadora da síndrome. De acordo com Íris, ao comparecer com dores na Unidade de Saúde Nossa senhora Aparecida, sua mãe só passa pela atenção primária. “Só medicação basta? E outros tratamentos como o psicológico e o nutricional?”, indagou ela. Ela descobriu, por meio de terceiros, que havia um trabalho com grupos de educação física na unidade. No entendimento de Íris, seria necessário que houvesse médicos especializados nas unidades para esse tipo de tratamento. No mesmo sentido se manifestou Renata Cristina Tristão, portadora da síndrome, que relatou suas dificuldades para enfrentar o problema. “Somos desacreditados nos mais diversos ambientes, inclusive no ambiente de trabalho. Chegaram a sugerir que eu me aposentasse por invalidez aos 33 anos, mas, embora eu tenha dificuldades, não me considero inválida”. Ela concluiu sua fala pedindo um olhar diferenciado por parte do poder público em relação ao problema.





TEXTO: Câmara Municipal de Curitiba



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